Rota Missões – Um pedacinho do céu na Terra.

> 23/04/2016 – sábado

vôo Azul AD 4293, saindo do Rio de Janeiro (GIG) às 6h10m, chegando a Campinas (VCP) às 7h25m, Aeroporto Internacional de Viracopos

vôo Azul AD 2850, saindo de Campinas (VCP) às 13h55m, chegando à Passo Fundo (PFB) às 16h15m

No Aeroporto de Passa Fundo (RS) nos aguardava o Sr. Antonio Camargo, da Missões Turismo Agência Receptiva, que além de nos conduzir por 250 km até São Miguel das Missões (RS), seria nosso guia durante todo o circuito, tornando-se um bom companheiro de viagem.

Esta Agência Receptiva está estabelecida na Avenida dos Jesuítas, 305 – sala 1, no centro de São Miguel das Missões. www.missoesturismo.com.br / missoesturismo@terra.com.br / (55) 3381-1319 / (55) 8455-1319.

Quatro horas depois, chegamos em São Miguel das Missões, ficando muito bem hospedados no Tenondé Park Hotel****, Rua São Miguel, 664. www.tenonde.com.br

Vende balaio o índio que plantava um novo mundo no império das Missões.Balaios de taquara que eram lanças, marcando a história das Sete Reduções.” (Apparício Silva Rillo)

Rota das Missões, local da realização da utopia do Cristianismo – A Terra sem Males. Os atrativos dos roteiros estão ligados a história, a religião, a antropologia, a arqueologia, aos espetáculos, as caminhadas e muito mais. Construções arquitetônicas com quase 500 anos de história e mais de 30 anos como Patrimônio Mundial, Cultural e Natural da Humanidade (1983), tudo em perfeita harmonia com a natureza e a cultura dos diversos povos que compõe o espaço, como os Guarani, os alemães, os poloneses e italianos compondo o tradicional gaúcho missioneiro.

> 24/04/2016 – domingo

Nossa primeira visita foi ao Sítio Arqueológico São Miguel Arcanjo – Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, reconhecido pela UNESCO em 1983, quase na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina, herança deixada pelas missões jesuítas no século XVII.

O Guia de Turismo Regional Odalmir José Munareto nos apresentou o sítio.

A construção da igreja teve início em 1735 e contou com mais de cem operários guaranis. Da planta original, há vestígios do colégio, da casa dos padres e do cemitério.

No sítio arqueológico é possível visitar o Museu das Missões, criado em 1940 pelo arquiteto Lúcio Costa, após visita a região das antigas Reduções Jesuíticas dos Guaranis, cuja construção imita uma habitação indígena. Localizado num dos extremos da praça da Redução, seu objetivo era a preservação das ruínas, dos fragmentos arquitetônicos e das esculturas missioneiras que estavam dispersas em casas, igrejas e capelas comunitárias.

Nele está o maior acervo brasileiro de esculturas de santos feitas pelos índios ou trazidas da Europa, além de fragmentos arquitetônicos, sinos das antigas Reduções e outros objetos, a maioria deles coletada na região por João Hugo Machado, primeiro zelador do Museu.

O Museu das Missões tem como missão investigar e documentar a experiência histórica missioneira; preservar o patrimônio cultural e natural relacionado às Reduções Jesuíticas dos Guarani e divulgar o conhecimento produzido sobre as Missões, por meio de programas educativos e culturais.

Aqui vimos a única cruz missioneira que encontraríamos no circuito, usada pelos guaranis como símbolo do bem contra o mal. Seus dois braços abertos simbolizam a fé redobrada. É considerada amuleto, quem a usa junto de si ou sem seu lar, tem proteção espiritual contra todos os males.

O Museu não abre às 2ªs feiras, funcionando de 3ª feira a domingo, das 9 às 12 e das 14 às 18 horas.

www.museudasmissoes.blogspot.com

Guardar (Antônio Cícero)

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.

Em um cofre não se guarda coisa alguma.

Em cofre perde-se a coisa à vista.

Guardar uma coisa é olhá-la, fita-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.

Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.

Por isso melhor se guardar o vôo de um pássaro

Do que um pássaro sem vôos.

Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema:

Para guarda-lo:

Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:

Guarde o que quer que guarda um poema:

Por isso o lance do poema:

Por guardar-se o que se quer guardar.

Agradeço a Antônio Cícero pela grata surpresa de descobrir num poema seu a expressão do meu pensamento e sentimento sobre objetos que guardo.

Na varanda externa do Museu, índios guaranis expõem e comercializam seus artesanatos.

É possível assistir ainda um vídeo com a reconstituição do antigo vilarejo.

Ao final da manhã, almoçamos no Restaurante Aldeia Grill, Avenida Borges do Canto, 1344, buffet muito saboroso, servido por uma família muito agradável. www.aldeiagrill.com.br

Uma visita à Fonte Missioneira, descoberta casualmente em 1982, que servia para uso da comunidade guarani e era uma das seis fontes que abasteciam à Redução à época. Esta fonte fica a cerca de 1 km do Sítio Arqueológico. Visitação gratuita, das 9 às 12 e das 14 às 18 horas.

Na sequência, visitamos o Santuário dos Mártires Caaró, padres jesuítas do primeiro ciclo missioneiro, Afonso Rodrigues, João de Castilhos e Roque Gonzales, martirizados em 1628.

No Santuário, imagem de Nossa Senhora Conquistadora e a água reconhecida como milagrosa.

Retornando ao hotel, paramos no Pórtico da Cidade, criado pelo artista missioneiro Tadeu Martins, uma homenagem a todos os missioneiros. Possui esculturas que representam São Miguel Arcanjo, o Padre Jesuíta Cristóvão de Mendonza e o Índio Guerreiro Sepé Tiarajú. Ao centro do portal pode-se ler em guarani, a frase dita por Sepé Tiarajú na Guerra Guaranítica: Co Yvy Oguereco Yara (Esta terra tem dono.), que acabou se tornando símbolo do tradicionalismo gaúcho e missioneiro ao longo dos anos.

Passamos, ainda, no Sítio Arqueológico para ir à lojinha, que estava fechada quando da visita da manhã.

De volta ao hotel, aproveitamos para apreciar o trabalho de Rossini Rodrigues, que trabalha com argila desde pequeno, desenvolvendo figuras e mitos da região missioneira: índios guaranis, santos missioneiros, peões, entre outros.

Um forte vento fez portas e janelas baterem, provocando um corre corre para fecha-las. Foi inesperado, durou poucos segundos, mas depois ficamos sabendo que se tratou de um ‘tornado’, que resultou na destruição do Museu do Sítio Arqueológico de São Miguel das Missões, suspendendo o espetáculo de Som & Luz que assistiríamos à noite e provocou estas manchetes:  “Um minuto de destruição, anos de recuperação, avaliou prefeito de São Miguel das Missões sobre tornado.”; “Tornado atinge São Miguel das Missões, cidade histórica do Rio Grande do Sul.” Segundo a MetSul Meteorologia, os ventos atingiram 250 km/h, caracterizando um tornado de categoria F2 na escala Fujita, que vai de F0 (mais brando) a F5 (mais intenso).

> 25/04/2016 – 2ª feira

Após o café da manhã, seguimos nosso circuito, deixando o Tenondé Park Hotel.

Verdadeiros donos destas terras, os índios guaranis foram os primeiros habitantes destas paragens e habitam o Rio Grande do Sul há mais de 2.500 anos.

Foi nesta região que em 3 de maio de 1626, os padres da Companhia de Jesus, Roque Gonzales e Afonso Rodrigues iniciaram contato com esta civilização buscando catequizar os nativos.

A união entre os padres jesuítas e os índios guaranis se desenvolveu até a assinatura do Tratado de Madrid, depois do que o desenrolar das guerras guaraníticas dizimaram e espalharam os guaranis pelo amplo território.

Depois de séculos, os guaranis retornaram às Missões nos anos 1990, onde formaram  a Aldeia Tekoa Koenju.

É possível vê-los com frequência no Sítio Arqueológico, onde vendem seus artesanatos. A aldeia guarani em São Miguel das Missões possui 237 hectares que, em 2001, foram comprados pelo Governo do Estado e cedidos aos índios.

É possível agendar no Tenondé Park Hotel uma visita a aldeia.

Com Antonio Camargo seguimos em direção a Porto Xavier, a 126 km, para fazer a travessia para a Argentina, por balsa, sobre o Rio Uruguai, para San Javier, onde passamos pela Aduana Paso de la Barca.

No caminho, na entrada para Gobernador Lopez, um protesto pelo preço da erva mate, segurou o trânsito formando um engarrafamento.

Da balsa à Misiones Jesviticas de San Ignacio Mini são 100 km. Aqui teriam vivido 4.500 guaranis e 2 jesuítas.

Depois da visita, seguimos nossa viagem por 55 km até Posadas, capital da Província de Misiones, onde nos hospedamos no Julio César Hotel, Entre Rios, 1951. www.juliocesarhotel.com

Após nos acomodarmos, uma caminhada nos levou a Plaza 9 de Julio para uma visita à Catedral.

Posadas tem 18 km de orla.

Foram 15 as Reduções Jesuíticas na Argentina, com destaque para as de Santa Ana, Nuestra Señora de Loreto, San Ignácio Mini e Santa Maria la Mayor, na Provincia das Misiones – Patrimonios Culturais da Humanidade.

> 26/04/2016 – 3ª feira

Partindo de Posadas (Argentina), atravessamos a Ponte Internacional San Roque González de Santa Cruz, sobre o Rio Paraná, para 2 km depois estar na cidade de Encarnación, capital do Departamento de Itapúa, Paraguai, onde foi necessário cambiar reais por guaranis.

E daí seguimos por cerca de 90 km até a Redução Jesuítica de San Cosme y Damián.

Nas proximidades da cidade de Coronel Bogado, uma pit stop na Chiperia Tipa.

Chiperia é a fabrica de chipas, um pão de queijo paraguaio que pode ser sem queijo, com queijo ou com carne e que lembra muito nosso pão de queijo e que é muito bom !

Embora tenham sido mais de 50, só 30 lograram se consolidar, o que lhes valeu, já no século XVIII, a denominação de ‘Treinta Pueblos’, dos quais se encontram no atual território paraguaio: San Ignacio Guazú, Santa Maria de Fe, Santa Rosa, Santiago, San Cosme y Damián, Itapúa (Encarnación), Trinidad del Paraná y Jesus de Tavarangüe.

Com o Guia Ramón, visitamos o Conjunto de la Iglesia y el Colegio da Misión Jesuítica Guaraní San Cosme y San Damián.

A igreja foi construída em 1760 e continua sendo utilizada nas celebrações aos domingos, tratando-se da única igreja da comunidade, o que achamos fantástico !!!

O altar e parte da igreja sofreram um incêndio em 1899.

Na fachada lateral está um grande pátio, antigo claustro dos religiosos. Em um de seus lados estão várias salas de aula do Colégio, do outro lado, o refeitório, os dormitórios dos religiosos, etc. O quarto lado era um muro com uma porta de acesso, ainda preservada, ao centro.

Acredita-se que esta fosse uma igreja provisória e que a principal estaria em construção, quando os jesuítas foram expulsos em 1768.

Esta igreja foi reconstruída.

As missões paraguaias são depositárias da maior e mais esplêndida coleção de esculturas dos séculos XVII e XVIII, de origem jesuítica, dos trinta povos, de tal forma que não se pode dizer que se viu e conheceu as esculturas jesuíticas se não houver visitado os museus paraguaios.

A plaza central da Missão é a praça pública da cidade. As antigas casas dos índios são atualmente de domínio particular, cerca de seis quadras de casas.

Em uma dessas casas está o Centro de Interpretación Astronómica Buenaventura Suárez (planetário e observatório).

Segundo o livro ‘San Cosme y Damián un Pueblo Peregrino’, o Padre Buenaventura Suárez esteve em San Cosme a partir do ano de 1718, com o Padre Lucas Rodríguez, paraguaio.

O Padre Buenaventura Suárez tinha por hobby a astronomia e com a ajuda dos guaranis, que também eram observadores do céu, construiu o observatório, usando materiais que podiam ser obtidos no próprio sítio, inclusive cristais de quartzo, encontrados nas margens do Rio Paraná e com os quais confeccionaram as lentes.

Ao observatório incorporou-se um sofisticado relógio de pêndulo com correspondente índice de minutos e segundos e um quadrante astronômico para ajustá-lo à rotação do sol.

Entre 1720 e 1743 o Padre Suárez escreveu o livro, ‘Lunario de un Siglo’, com as datas dos eclipses.

Apesar dos seus feitos, seu nome não consta entre os grandes astrônomos da humanidade.

A ele também se deve a elaboração do primeiro mapa da região com a localização exata dos trinta povos jesuítico-guarani.

Sempre ficamos pasmos com tamanha sofisticação científica !!!

Almoçamos na casa da Dona Damiana, avó do Guia Ramón, que serve uma farta e saborosa comida caseira.

Barriga cheia, pé na estrada, desta feita rumo a Santo Ignacio Iguazu, à 110 km, o primeiro dos trinta povos missioneiros, 1609, onde visitamos o espetacular Museo Diocesano de Arte Jesuítico San Ignacio Guazú.

O prédio corresponde ao antigo colégio do assentamento das reduções jesuíticas do século XVII, um dos edifícios mais antigos que se encontra de pé no Paraguai, transformado em museu em 1978.

Possui uma coleção verdadeiramente extraordinária de esculturas de madeira policromada, que pertenceram ao antigo Templo, derrubado em 1921.

Encerramos nosso dia em Santa Maria de Fé, Departamento de Misiones, onde nos hospedamos no Santa María Hotel. O hotel pequenino, apenas quatro quartos, simples e aconchegante. Um pernoite diferenciado, muitíssimo agradável. www.santamariahotel.org

Uma cidade pequenina, linda e calma. Que praça encantadora ! Me lembrei muito da minha cidade natal, Tombos – Minas Gerais, na época da minha infância/juventude.

> 27/04/2016 – 4ª feira

Ao lado do hotel, uma oficina de bordadeiras, algo cada vez mais raro nos dias de hoje.

Visita ao Museo Diocesano de Santa María de Fé e belíssimas imagens esculpidas.

Visita à Igreja de Santa María de Fé, onde havia cerca de 200 imagens.

Retornamos a Encarnación, passando por Coronel Bogado, nova parada para uma chipa tradicional, uma chipa com queijo.

Uma vez em Encaración, almoçamos na Churrasqueria Novo Rodeio, a 600 m da Aduana Paraguaia. www.novorodeio.com

Mais 28 km a partir de Encarnación, chegamos a Misión Jesuítica Guaraní La Santísima Trinidad del Paraná, a maior das vilas erguidas pelos jesuítas na América do Sul, chegando a ter mais de 3 mil habitantes.

Na planta da Missão, há a igreja primitiva, com sua torre que serviu de campanário, e pavilhões de casas de índios, além das casas dos padres e o cemitério primitivo. Há, ainda, a Igreja Maior, construída por volta de 1745 pelo arquiteto italiano Milanés Juan Bautista Prímoli.

Segundo o arquiteto Graziano Gasparini, Trinidad é “… la construcción arquitectónica más ambiciosa, de más calidad, de cuantas levantaron los jesuitas en territorio guaraní …”.

Anexa à Igreja Maior, o claustro de 6.000 m², o Colegio, o Cemitério e a Horta.

Fizemos esta visita guiados por Romina, jovem, bonita, bem falante e de um entusiasmo contagiante.

8,5 km adiante, a Redução Jesuítica de Jesús de Tavarangüé, do século XVII, inconclusa.

Acompanhou-nos nesta visita o Guia Andrés.

A paisagem, hoje tranquila, foi palco de uma das batalhas mais sangrentas da Guerra do Paraguai, a Guerra da Tríplice Aliança, em que Uruguai, Argentina e Brasil se uniram contra o Paraguai. Foram cinco anos de bombardeios que deixaram marcas não apenas nas construções, mas no sentimento do povo paraguaio. Segundo os historiadores, de 80 a 90% da população adulta masculina teria sido dizimadas.

Retornamos a Posadas, na Argentina, onde voltamos a nos hospedar no Hotel Júlio Cesar. www.hoteljuliocesar.com

> 28/04/2016 – 5ª feira

260 km a frente, rumo ao nosso destino, Santo Angelo (RS), no caminho passamos por uma das 15 reduções argentinas, a de Candelária, das mais importantes, hoje dentro de um presídio.

Candelária chegou a ser a capital das Missões, era a de maior número de padres e nela residia o Superior das Missões. Restaram poucas ruínas, que ficam no interior do presídio federal.

É necessário pedir autorização na municipalidade para visitar o local.

São Luiz Gonzaga, já no Brasil, o prefeito mandou demolir a edificação da redução, onde chegou a funcionar um colégio, em razão do aparecimento de morcegos. Total falta de visão histórica.

De Porto Xavier a Santo Angelo são 120 km, com direito a uma parada em São Pedro do Butiá, Terra do Jardim e do Centro Germânico Missioneiro, que, contudo, estava fechado. Funciona das 8 às 11:30 e das 14 às 18 horas. www.saopedrodobutia.rs.gov.br

Nossa hospedagem em Santo Ângelo foi no Hotel Maerkli, Avenida Brasil, 1000, no centro da cidade chamada de capital das Missões. www.versarehoteis.com.br

Foi só nos acomodarmos e sair. A Guia Inês nos acompanhou na nossa visita ao Memorial da Coluna Prestes, instalado no prédio da antiga Estação Ferroviária, construído em 1921 e tombado pela importância histórica.

O Memorial é uma homenagem à Coluna Revolucionária, cuja organização ocorreu em 1924, sob a liderança de Luiz Carlos Prestes.

A Coluna foi um levante contra a ditadura, um movimento político-militar pregando reformas políticas e sociais, que percorreu 25 mil km pelo interior do país em 2 anos e meio.

No rastro da Coluna ficava a esperança‘. (Jorge Amado)

Aí se encontra o Museu Ferroviário e o Monumento ‘Coluna Invicta’.

Ainda com a Guia Inês fomos ao Centro Histórico ‘Santo Angelo Custódio’, espaço histórico e cultural revitalizado, abrangendo a Praça, o Museu Municipal, a Prefeitura, a Catedral Angelopolitana e seu entorno.

Na praça, simbolizando o passado e o presente, encontram-se obras do artista plástico Tadeu Martins.

O atual templo foi erguido no mesmo local da Igreja da Redução de Santo Ângelo Custódio, a partir de 1929. Na fachada estão as imagens dos santos padroeiros dos Sete Povos das Missões, esculpidas em pedra grês pelo austríaco Valentin Von Adamovich: Lorenzo, Luiz, Miguel, João Batista, Borja e Nicolau, os santos missioneiros, uma réplica da igreja do sítio arqueológico de São Miguel. Em seu interior uma imagem do Cristo Morto, autêntica relíquia da estatutária jesuítico-guarani.

Ainda na praça, o Museu Municipal Dr. José Olavo Machado, instalado num prédio do século XIX, guarda várias peças da história regional. E aqui nos despedimos de Inês.

> 29/04/2016 – 6ª feira

A recepção do hotel contactou o Sr. Marino, que nos conduziu por 7 km até o Santuário de Schoenstatt, o Santuário da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável.

Local de peregrinação religiosa, integra um conjunto de Santuários espalhados pelos cinco continentes.

Ao retornarmos ao centro, ficamos na praça principal e visitamos o prédio da Prefeitura Municipal. Inaugurado em 1929, foi tombado como Patrimônio Histórico Cultural no ano de 1993. Abriga o acervo artístico Tupambaé, integrado por enormes e belos painéis do artista plástico Tadeu Martins.

Almoçamos num lugarzinho charmoso e comida saborosa, bem pertinho do Hotel, no Kemper’s Haus, na Rua Marquês do Herval, 1763. www.kempershaus.com.br

Após o almoço, fomos visitar a Vinícola Fin, no Município de Entre Ijuis.

Tudo começou em 1876 com a vinda do patriarca da família Luigi Fin, nascido em Arzignano, província de Vêneto, Itália, para Campo dos Bugres, atual Caxias do Sul. A continuidade se deu com Patrício Fin em Três de Maio – RS. Jorge Fin, 3ª geração dos Fin no Brasil, mantém viva as raízes e a tradição familiar na elaboração de vinhos e cultivo de videiras.

Concluída a visita à vinícola, rumamos 60 km em direção à São Miguel das Missões para conhecer o santeiro da região, José Altamir Vieira Herter, escultor, faz réplica das esculturas missioneiras, autorizado pelo IPHAN – Patrimônio Histórico e Cultural Nacional. Artista plástico com obras em exposição no Museu Mário Quintana de Porto Alegre,especializado em Barroco Jesuíta Missioneiro, Esculturas em Madeira, Réplica de Obras Sacras, Talhado em Madeira, Artesanato Típico Missioneiro.  www.jaherter.blogspot.com

Fomos até o Tenondé Park Hotel para fazer um lanche e aguardar para assistir ao Espetáculo de Som e Luz no Sítio Arqueológico São Miguel Arcanjo, que conta a saga dos padres jesuítas e índios Guarani, habitantes da Região Missioneira nos séculos XVII e XVIII, com duração de aproximadamente 50 minutos.

Foi um espetáculo especial, modernizado e que reabria o Sítio Arqueológico depois do tornado, razão pela qual várias autoridades estiveram presentes. Diariamente às 21:30 horas, durante o horário de verão; fevereiro, março, abril, agosto, setembro e outubro, às 20 horas e maio, junho e julho, às 19 horas.

> 30/04/2016 – sábado

Nos despedimos de Santo Ângelo e do Roteiro das Missões, seguimos para Porto Alegre, conduzidos pelo Sr. Adão. Nos hospedamos e acomodamos no Hotel Deville Prime Porto Alegre, Avenida dos Estados,1909, a 800 m do Aeroporto Internacional Salgado Filho, já que este era apenas um pit stop, para no dia seguinte seguirmos para Foz do Iguaçu.  www.deville.com.br

Nosso jantar não poderia ser em outro lugar que não fosse uma churrascaria e, por indicação/sugestão do hotel, a escolha recaiu na Schneider, que nos buscou e depois nos levou de volta ao hotel. Muito prático e gentil. www.churrascariaschneider.com.br

Em 2013, o Ministério do Planejamento autorizou a criação de uma linha de crédito destinada exclusivamente aos sítios históricos urbanos protegidos pelo IPHAN, dando origem ao PAC Cidades Históricas, num total de 44 cidades atendidas, entre as quais São Miguel das Missões. http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/292

A Comissão de Patrimônio Cultural (CPC) do Mercosul decidiu em maio de 2015 reconhecer as Missões Jesuítas Guaranis, Moxos e Chiquitos e La Payada como Patrimônio Cultural da Região.

A avaliação técnica da candidatura do Sistema Missioneiro foi elaborada por especialistas da Colômbia, do Chile e Equador, ressaltando os valores e a importância das Missões Jesuíticas para o cenário cultural dos países da América Latina.

Esse reconhecimento constitui um vínculo entre Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai e dentro dessa perspectiva num grande avanço para valorização do patrimônio cultural em comum dessa região, valores etnográficos, históricos, paisagísticos, urbanísticos, arquitetônicos, artísticos e arqueológicos.

Os remanescentes missioneiros de São Miguel Arcanjo, no Brasil, foram inscritos na Lista do Patrimônio Mundial em 1985, junto com as Reduções de San Ignacio Mini, Santa Ana, Nuesta Señora de Loreto e Santa Maria Mayor, na Argentina. Esses são os principais remanescentes das missões jesuíticas em território guarani, caracterizando uma particular organização social e forma de ocupação do território sul-americano. http://portal.iphan.gov.br

Missioneiro, uma mistura de povos

A cultura missioneira é um mosaico de etnias. Além da presença do guarani, dos espanhóis e portugueses, também foi forte a influência da cultura alemã, italiana, polonesa e negra. Esta mescla permite a riqueza na fisionomia do povo e das manifestações culturais, desde a gastronomia até a arquitetura.

Todo o processo pós missões de ocupação territorial na região missioneira aconteceu inicialmente na região de campos, vinculada à economia do gado e somente no final do século XIX teve início o processo de colonização na região de matas, iniciando uma grande modificação na paisagem missioneira, com a implantação de grandes lavouras, como as de trigo e soja.

Conhecer a Região das Missões é uma verdadeira viagem no tempo, é descortinar um cenário de mais de 400 anos de história e o conjunto de remanescências materiais dos Trinta Povos das Missões, que se estabeleceram na porção centro-sul da América do Sul durante os séculos XVII e XVIII.

Andar por essa Região faz reviver a saga dos jesuítas que, em 1609, atravessaram o Atlântico, rumo ao desconhecido para conviver com os Guarani dentro dos princípios da fé cristã.

Pelo Tratado de Tordesilhas, de 1494, todas as terras da então chamada Província Jesuítica pertenciam à coroa espanhola. Nela conviveram 30 povos, por 160 anos, chegando a agrupar até 100 mil indígenas em torno de uma sociedade altamente desenvolvida nos mais variados aspectos – uma experiência única no mundo até então e, provavelmente, até hoje. Reconhecida por Voltaire e Montesquieu, filósofos do Iluminismo, como a realização da utopia do Cristianismo – A Terra sem Males.

O chamado primeiro período da história missioneira se deu entre 1609 e 1641 e teve como protagonista e idealizador o Padre Roque González de Santa Cruz, paraguaio, que, a partir da primeira missão, em San Ignácio Guazú (hoje no Paraguai) lançou as bases do sistema reducional.

Em 1626, no lado oriental do Rio Uruguai, fundou a missão de São Nicolau, acompanhado de outros dois jovens padres jesuítas espanhóis: Juan de Castillo e Alfonso Rodriguez.

Nos anos seguintes, outras missões foram implantadas no atual Rio Grande do Sul, nas proximidades das atuais cidades de São Borja, Ijuí, além da Redução de Caaró (em guarani, erva amarga). Em 1628, estes três padres foram martirizados por ordem do cacique guarani Nheçu.

Outros jesuítas, porém, deram prosseguimento à implantação das Reduções, trazendo uma novidade, que mudaria para sempre a região: o gado bovino.

As Reduções, porém, estavam sujeitas a um grande flagelo: os bandeirantes provenientes de São Paulo. Os bandeirantes eram verdadeiros caçadores de índios, mão-de-obra mais barata do que a importada da África.

O fato de os índios terem passado a adotar um estilo sedentário e não mais nômade com as Reduções, facilitou o trabalho dos bandeirantes, que conseguiam, assim, capturar muitos índios de uma só vez, levando-os para São Paulo.

Havia hesitação por parte da Coroa Espanhola em permitir que armas fossem entregues aos índios e jesuítas, de forma que as investidas paulistas eram crescentes. O bandeirante Raposo Tavares (nome dado a uma importante rodovia paulista) foi um destes que assolaram as missões jesuíticas da região conhecido como El Tape.

Em meio a este cenário, houve dispersão generalizada dos índios guarani e a experiência das Reduções frustou-se.

Apenas a partir de 1628 é que os jesuítas ganharam novo fôlego para empreender o projeto reducional do qual eram entusiastas. Iniciando-se, assim, o segundo período da história missioneira, com a fundação de 30 povos espalhados entre os atuais territórios do Paraguai, Argentina e Brasil, sendo que em 1732, quase 150 mil guaranis estavam, voluntariamente, integrando alguma destas Reduções.

Em 1750, dada a obsolescência do Tratado de Tordesilhas, os dois países ibéricos se sentaram para renegociar os limites entre seus domínios, assim assinaram o Tratado de Madri, pelo qual, dentre outras disposições, Portugal cedia à Espanha a Colônia do Sacramento, no Rio da Prata e, em compensação, recebia as terras à margem oriental do Rio Uruguai. Estabelecia-se que os padres jesuítas espanhóis e os índios deveriam sair das então terras portuguesas, abandonando todos os seus bens, exceto os de uso pessoal.

Esta notícia foi devastadora para as missões.

Os padres e também os guaranis se sentiram traídos pela Espanha, a quem juraram fidelidade e decidiram não arredar os pés das Reduções, compreendendo os guaranis que aquelas terras não eram portuguesas nem espanholas, eram suas.

Este fato desencadeou as Guerras Guaraníticas, que ecodem em 1754, da qual emergiu o lendário guerreiro guarani Sepé Tiarajú com seu brado ‘esta terra tem dono!’, do outro lado os espanhóis, vindos de Montevidéu e Buenos Aires, aliados aos portugueses, vindos do Rio de Janeiro.

Os indígenas, que conheciam muito melhor os campos de combate, ofereceram inesperada e tenaz resistência às incursões ibéricas, mas, em 1756, Tiarajú foi assassinado, na Batalha de Caiboapé, causando a derrota das tropas guaranis.

Os jesuítas, em 1759, foram expulsos de todas as terras portuguesas e em 1767, de todas as terras espanholas, entrando as Reduções em profundo declínio.

O Tratado de Madri foi anulado pelo Tratado de El Pardo em 1761, que permitia aos índios retornarem às suas terras até a definitiva expulsão dos jesuítas dos domínios espanhóis, decretada por Carlos III, rei da Espanha.

O golpe final foi a expulsão dos jesuítas em 1768.

Finalmente, a Guerra Cisplatina, em 1828, destruiu o que ainda restava da civilização missioneira, quando D. Fructuoso Rivera incorporou a seu exército todos os homens que encontrava nas Missões.

Foram sete os Pueblos ou Reduções implantados no noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, conhecidos por Sete Povos das Missões:

  • São Francisco de Borja, 1666
  • São Nicolau, 1687
  • São Luiz Gonzaga, 1687
  • São Miguel Arcanjo, 1687
  • São Lourenço Mártir, 1690
  • São João Batista, 1697
  • Santo Ângelo Custódio, 1706

Hoje, é possível visitar os remanescentes arqueológicos de quatro dessas Reduções:

> Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo

> Sítio Arqueológico de São Nicolau

> Sítio Arqueológico de São Lourenço Mártir

> Sítio Arqueológico de São João Batista

“Quem conhece uma cidade, conhece todas, pois todas são exatamente semelhantes, tanto quanto a natureza do local o permite.” (Thomas Morus, sobre as Reduções jesuíticas)

A religião foi a razão da fundação das Reduções. Com a intenção de catequizar índios, oferecendo ensinamentos diversos voltados à Cristianização e sobrevivência – como plantação, manejo de animais, arte e muito mais – os jesuítas vieram às Américas.

Aqui criaram uma comunidade que conheceu a organização, o sentimento de união, o compromisso de aperfeiçoamento, a ideia de coletividade que tornava tudo comum e abundante, chegando mesmo a conquistar excedentes que eram vendidos em outras regiões da América e na Europa.

O local onde a utopia do Cristianismo virou realidade apresenta a emoção da fé em todos os espaços. E entre os passeios religiosos da região está o Circuito das Imagens Missioneiras, para contemplação de uma seleção de peças produzidas à época das Reduções, dos mais diversos santos e, também, de variados materiais e linguagens artísticas.

Os jesuítas eram metódicos e estabeleceram regras claras para o funcionamento das Reduções. Durante dois dias da semana, os índios homens trabalhavam para a produção de alimentos para a coletividade e nos outros quatro dias trabalhavam para a produção de alimentos para a sua família. No domingo era proibido trabalhar, devendo assistir à missa e a catequese, ministrada em língua guarani. Havia grande fartura alimentar, em especial de carne bovina e ovina, milho, trigo, cevada e algodão.

No início, se chegou a proibir a utilização da erva-mate, conhecida desde tempos imemoriais pelos guaranis, uma vez que a erva era utilizada em cultos animistas. Mas os jesuítas perceberam com o tempo, que era melhor que os índios consumissem o mate do que o cauim, um fermentado alcoólico.

Todas as Reduções eram estabelecidas em torno de uma grande praça na qual ficavam a igreja, as casas dos índios, as casas dos padres, a casa do cabildo, o cotiguaçu, o cemitério e o local das hortas.

Havia escolas e aos índios era oferecido o contato com a arte (arquitetura, pintura, escultura, música). Na Redução de São João Batista, o Padre Antonio Sepp introduziu a metalurgia e, assim, conquistou matéria-prima para fabricação de sinos e outros utensílios que marcaram a arquitetura local.

Conta-se que finos instrumentos musicais eram produzidos nas missões e que os corais de índios em nada deviam aos melhores corais europeus.

Até experimentos com imprensa e astronomia chegaram a ser realizadas.

A administração da justiça era decidida pelos líderes indígenas sob a supervisão dos jesuítas. Aos (raros) casos de homicídio e outros delitos atrozes era aplicada a pena de prisão perpétua. Delitos de menor importância acarretavam em um primeira vez apenas na advertência. Na reincidência, a pena era chibatadas em praça pública.