Precisávamos ir a Mambucaba, Distrito do Município de Angra dos Reis, a 203 km do Rio de Janeiro e ir à Paraty, a mais 47 km, era um destino natural. E assim fizemos.

Em 24/04/2017, uma 2ª feira, saímos do Rio de Janeiro e juntando o necessário ao agradável, chegamos a Paraty.

Antes, contudo, entramos na Estrada Paraty – Cunha, para almoçar no Restaurante Villa Verde, a 6 km do trevo, seguindo uma dica do casal José Ricardo Trigo,”Um delicioso e saboroso modo de iniciar o circuito gastronômico em Paraty.”

Para acessar o restaurante é preciso atravessar uma ponte suspensa sobre o rio Perequê, o que dá um toque todo especial ao almoço, além do que o restaurante é rodeado por um Parque de Proteção Ambiental. É possível dar um mergulho, enquanto se aguarda o almoço.

As massas são feitas na casa (ravioli e fettuccine).

www.villaverdeparaty.com.br

Daí, seguimos para Paraty, um tesouro entre o mar e a montanha.

Escolhemos a Pousada do Príncipe para nos hospedarmos, Avenida Roberto Silveira, telefone (24) 3371-2266. www.pousadadoprincipe.com.br

De propriedade do Príncipe D. João de Orleans e Bragança, filho primogênito do Príncipe João Maria de Orleans e Bragança e da Princesa egípcia Fátima Scherifa Chirine; bisneto da Princesa Isabel; tataraneto de Dom Pedro II, a Pousada está instalada em uma casa datada de 1988, construída e planejada para homenagear os antigos casarões da época imperial.

> 25/04/2017 – 3ª feira

Às 8 horas, o guia Raoni, Engº Ambiental, da Jango Tour, nos levou até o Totem da Estrada Real, na Estrada Paraty-Cunha; ao entorno do Caminho do Ouro; à Igreja da Penha; ao Alambique Engenho do Ouro e uma queijaria.

Pela primeira vez ouvimos falar da influência da maçonaria na história de Paraty.

A mais antiga e mais comum representação da instituição maçônica, o compasso e o esquadro reunidos, significando a ‘Justa Medida’, é um monumento presente na entrada da cidade. São 40 os monumentos maçônicos espalhados pelo Brasil.

Muitos outros símbolos da maçonaria podem ser encontrados em outros pontos da cidade, cujo centro histórico conta com 33 quadras, uma referência ao grau máximo da maçonaria.

O Totem da Estrada Real é um marco na localidade dos Penhas, onde é possível ver o trecho de 3 km recuperado, dos 12 km que restam da Estrada Real, em sua maior parte dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina.

www.miniestradareal.com

A Igreja Nossa Senhora da Penha guarda a entrada da trilha e, como toda igreja em honra a Nossa Senhora da Penha, foi construída sobre a rocha.

A visita ao Alambique Engenho D’Ouro permitiu apreciar as etapas de fabricação da cachaça e também a casa da farinha.

www.engenhodouro.com.br

A cachaça local foi apreciada ao ponto de, até meados do século XX, o nome Paraty ter sido usado como sinônimo da bebida: “Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí / Em vez de tomar chá com torrada, ele tomou Paraty”, cantou Assis Valente no samba ‘Camisa Listrada’.

Retornando deste tour, eu e meu marido seguimos para o centro histórico, ode tivemos oportunidade de ver, ao vivo e a cores, o mar entrar pelas ruas da cidade, criando um espetáculo de cores e reflexos.

Paraty deve ser a única cidade do país onde antes de estacionar o motorista precisa consultar a tábua das marés.

A invasão de algumas ruas pelo mar, nas mares altas, é vista com naturalidade pelos habitantes, já que a cidade foi feita para ser inundada de água salgada. As ruas foram projetadas como se fossem canais, com a parte central mais funda, deixando a água entrar e sair à vontade, sem, contudo, alagar as casas, graças a inclinação lateral.

O motivo ? Lavar e higienizar a cidade, já que naquela época os dejetos das casas eram lançados nas próprias ruas. Hoje a realidade não é mais esta, mas o mar segue tomando as ruas, sem a menor cerimônia.

No Beneditas Restaurante experimentamos as deliciosas ‘Cestinhas Benditas’, uma espécie de pastel aberto, com recheio de queijo brie, alho poró e camarão. Rua Doutor Samuel Costa, 267. O ambiente se completa com os quadros do artista Aécio Sarti, que tem seu ateliê também no Centro Histórico, na Praça da Bandeira, 1. De acordo como Guia Decor, Arte & Urbanismo Paraty 2017, ao invés do fundo branco de uma tela comum, o pintor reaproveita lonas usadas, não desprezando nem mesmo os remendos e o próprio desgaste. www.aeciosarti.com

Às 17:00 horas, a partir do Centro de Informações Turísticas – CIT, em frente a Praça do Chafariz, teve início um City Tour com a guia Regina Pádua, ginapadua@hotmail.com.

Este City Tour acontece diariamente as 9:00 e as 17:00 horas, com 1:30 a 2 horas de duração, e é uma caminhada a pé pelo Centro Histórico, com guias credenciados, visitando igrejas, sobrados e principais monumentos do século XVIII.

O chafariz da praça foi inaugurado pelo Presidente da Província do Rio de Janeiro, o Conselheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz, Barão do Bom Retiro, que também o mandou construir para que servisse para abastecer a cidade de água, já que não existia sistema de distribuição para as residências. Junto a ele ficava o poço da lavagem, local de lavagem de roupas e onde os tropeiros davam de beber às suas tropas.

O Centro Histórico, considerado pela UNESCO como ‘conjunto arquitetônico colonial mais harmonioso’, é tombado pelo IPHAN e mantido como Patrimônio Nacional. Seu calçamento, conhecido como pé-de-moleque, cobre as ruas que traçam o centro histórico, num total de 14 ruas fechadas ao trânsito.

Estas ruas são propositalmente curvas, simulando becos sem saída, recurso usado pelos portugueses para confundir eventuais invasores.

Fundada em meados do século XVI, foi emancipada em 1667, na condição de Vila Nossa Senhora dos Remédios de Paraty, nome dado à capela erguida em louvor à santa.

Durante o século XVII, tornou-se o segundo porto mais importante da colônia. Do embarque do ouro das Minas Gerais aos ciclos do açúcar e do café do Vale do Paraíba, Paraty se tornou movimentado entreposto comercial.

O auge do crescimento aconteceu no século XVIII, marcado pelas construções do cais e das igrejas, fosse por vontade da burguesia, como a Igreja Nossa Senhora dos Remédios, fosse por vontade dos escravos como a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.

A cidade chegou a contar mais de 250 engenhos de açúcar na época do florescimento econômico.

A cidade perdeu sua força no século XIX, com a abolição da escravatura e a construção da ferrovia que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro, ficando abandonada por quase meio século.

Redescoberta na década de 70, foi revitalizada principalmente através do turismo.

São 460 construções, dentre elas 4 igrejas de raças (dos negros, dos pardos, dos brancos).

> Igreja de Nossa Senhora do Rosário e Igreja São Benedito, Rua Tenente Francisco Antônio, teve sua construção iniciada em 1725 para uso dos pretos escravos que ajudaram na sua construção. Sua fachada é rústica com duas janelas no coro e uma porta, óculo no frontão triangular, encimado por uma cruz, típico das igrejas dos séculos XVI e XVII. Sineira lateral com dois sinos. Cunhais com lampiões encimados por uma cruz. Destaque para o adorno em forma de abacaxi que sustenta o lustre central, descrito como uma ‘tropicalização’ de elementos decorativos. É a única igreja de Party com altares dourados, mas o douramento é obra do início do século passado. A obra foi executada por um pintor que ficou conhecido como ‘João Dourador’. O altar de São Benedito foi mandado dourar por Manoel Francisco de Alvarenga e Souza, líder político local, em pagamento de uma promessa e os outros dois pela irmandade. O altar de São Benedito é o mais ricamente dourado.

Originalmente, a torre ao lado da igreja pertencia a Câmara Municipal que a mandou construir em 1844, como torre sineira da Câmara. Esta torre, comum a todas as Casas de Câmara e Cadeia da época, destinava-se a convocar o povo para ouvir a leitura de editais e proclamas e dar alarme por ocasião de desastres naturais como enchentes, incêndios ou possíveis ataques e invasões. Caindo em desuso este costume, a torre foi incorporada ao templo com a construção de uma parede lateral. Mas, o costume de soar o sino para avisos de alarme permaneceu até bem pouco tempo.

As festividades da igreja ocorrem no mês de novembro, com missa, procissão, ladainhas e celebrações tradicionais como as figuras do Rei e da Rainha, as Folias e o mastro com as imagens dos santos.

> Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios, Praça da Matriz / Praça Monsenhor Hélio Pires / Praça do Imperador. Por ocasião da fundação do povoado se ergueu uma pequena capela dedicada a São Roque sobre o atual Morro do Forte, onde foram construídas as primeiras moradias.

Em 1640, Dona Maria Jácome de Melo doou a área situada entre os rios Perequê-açu e Patitiba para a construção do novo povoado exigindo que nele se construísse uma capela dedicada a Nossa Senhora dos Remédios, santa de sua devoção, e que não se molestassem os índios que ali viviam.

Esta primeira capela foi demolida em 1668 e em seu lugar construída uma igreja maior, obra que só terminou em 1712.

Em 1787, por ser a igreja pequena para a população, cerca de 2.700 pessoas, foram iniciadas as obras de um novo tempo em local próximo ao anterior, construção esta paralisada várias vezes.

A 7 de setembro de 1873 foi a igreja entregue ao culto público.

> Igreja de Nossa Senhora das Dores, Rua Fresca, antiga Alegre, das Dores e do Mar. Também chamada de Capela das Dores ou Capelinha, foi projetada para ter duas torres, apenas uma foi concluída.

A construção se deu em 1800 pelo Padre Antonio Xavier da Silva Braga e algumas devotas.

Foi a capela da moda no tempo do império por ser a mais nova.

Em 1901 foi quase totalmente reformada.

A irmandade de Nossa Senhora das Dores só permitia a admissão de mulheres. Todas as irmandades de Paraty foram extintas na década de 1960.

Merece especial atenção o cemitério, em estilo de columbário, que circunda o pátio interno. Esta é uma espécie de construção sepulcral dotada de pequenos nichos que se destinavam a guardar urnas com as cinzas de cadáveres humanos.

A torre desta igreja tem sobre a cúpula um galo marcador da direção dos ventos.

> Igreja de Santa Rita, Rua Santa Rita, antiga Rua da Santa Rita, igreja edificada em 1722, pelos pardos libertos, sob a invocação de Menino Deus, Santa Rita e Santa Quitéria.

Alguns anos depois foi reparada e reedificada com aumento por devotos brancos que passaram a utilizá-la como Matriz durante a construção daquele novo templo.

É a igreja mais antiga da cidade em virtude da demolição da capela de São Roque e da antiga Matriz.

A fachada, de esquema jesuítico, tem três janelas no coro e uma porta. Cunhais em cantaria. Frontão em curva e torre do campanário encimada por um galo de grimpa (catavento).

Contíguo à Igreja, do lado direito do corpo principal, separados pelo adro e um jardim, encontra-se o cemitério da Irmandade de Santa Rita dos Pardos, em estilo catacumbas.

Nela funciona o Museu de Arte Sacra de Paraty, sob a responsabilidade do Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM com exposição permanente de imagens e objetos sacros. Apenas durante a Festa de Santa Rita são celebrados nesta igreja os ofícios religiosos e as procissões.

Na lateral da Igreja de Santa Rita está um dos pequenos altares públicos, destinados às procissões ‘dos Passos’, que só se abrem na Semana Santa. Trata-se das 7 Portas da Paixão: duas originais, uma na Rua do Comércio e esta da lateral da Igreja de Santa Rita. As outras, que haviam sido demolidas em 1929, foram reconstruídas pelo IBRAM, que utilizou as portas originais que estavam guardadas na Matriz e estão localizadas também na Rua do Comércio e na Rua Dona Geralda.

A Rua do Comércio é a antiga Rua da Patitiba e Rua Tenente Francisco Antonio e a Rua Dona Geralda é a antiga Rua da Praia e Rua do Mercado.

Ao lado da Igreja de Santa Rita está o prédio onde está instalada a Biblioteca Municipal Fábio Vilaboim, onde funcionou a antiga Casa de Detenção, mandada construir pelo Governo da Província, antes de 1872, onde, antes ainda, funcionou o Quartel da Fortaleza da Patitiba, que havia ruído.

Atribui-se à maçonaria o traçado da malha urbana do centro histórico. Nas encruzilhadas das ruas três cunhais em cantaria (pedra lavrada) formam um triângulo imaginário, símbolo maçônico por excelência.

Sobre a maçonaria, seus integrantes – artífices, negociantes e profissionais liberais – eram conhecedores de muitas técnicas construtivas e realmente tiveram participação atuante em Paraty desde o século XVIII.

Uns poucos sobrados exibem em suas fachadas duas faixas verticais, repletas de desenhos geométricos aos quais se atribuem significados maçônicos: o Triângulo, Grande Signo da Maçonaria que simboliza o Supremo Arquiteto do Universo; Pentagrama, a dominação do corpo pelo espírito; Losango, a coroa, a inteligência, a sabedoria, a força, a Graça, a beleza, a glória, a vitória, o fundamento e o reino; Lua Crescente, a vida, a sabedoria e a inteligência; a Lua Minguante, as trevas e a morte; Compasso, a precisão e a exatidão; Esquadro, a regularidade e a boa ordem.

Outro detalhe é que a maioria das casas oitocentistas tem suas portas e janelas pintadas de azul hortênsia, cor da Maçonaria Simbólica.

A loja maçônica paratiense data do século XIX. Consta que Salvador Carvalho do Amaral Gurgel, nascido em Paraty, em 1762, indo  morar em Vila Rica, frequentava uma Loja Maçônica onde costumava aparecer Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes – que teria sido iniciado por José Álvares Maciel. O paratiense, preso e julgado com os demais inconfidentes, teria sido condenado a exílio em Moçambique.

Na Rua do Comércio, uma das últimas construções do século XIX, o Sobrado dos Bonecos.Sobre a platibanda que arremata a cimalha de telhas de louça, provavelmente portuguesas, pintadas à mão, dizem que existiam cinco estátuas (‘bonecos’), também de louça portuguesa, provavelmente representando os cinco continentes, que teriam sido vendidas na década de 1930. Interessante as cornetas sob as sacadas, para escoar a água de chuva, feitas em bronze.

A Rua da Matriz, antiga da Lapa e Marechal Santos Dias é a mais antiga de Paraty.

Depois deste tour, recompor a energia é uma exigência do corpo e nossa escolha recaiu sobre La Dolce Vita Trattoria & Pizzeria, Rua do Comércio,130.

> 26/04/2017 – 4ª feira

Retornamos a Igreja de Santa Rita para uma visita ao Museu de Arte Sacra, de 2ª feira a sábado, das 9 às 17 horas.

Chamou minha atenção o busto de Santa Suzana, uma peça belíssima, em madeira, com vestígios de policromia e douração, oriundo da localidade de Corisco, zona rural de Paraty e, ainda, a réplica da imagem de São Benedito das Flores, confeccionada pelo paratiense Felipe dos Santos Alcântara, a partir da imagem original do século XVIII, que pertenceu à Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Paraty.

Descendente de negros, São Benedito ingressou na Ordem Franciscana como irmão leigo e viveu no convento de Santa Maria de Jesus, trabalhado como cozinheiro. É representado vestindo o hábito franciscano, atado com o cordão da ordem, com os três nós que simbolizam a pobreza, a obediência e a castidade. Aí tivemos contato com a imagem de São Benedito das Flores, do qual não tínhamos sequer ouvido falar.  São atributos do Santo uma toalha ou pano de pratos em uma das mãos, um coração inflamado, do qual jorram sete gotas de sangue, que simbolizam as sete virtudes e um ramalhete de flores, aludindo a um de seus milagres.

“O Milagre das Flores: acostumado a esvaziar a dispensa do convento para doar alimento aos pobres, o frei franciscano foi repreendido por seu superior, que o obrigou a parar com a boa ação. Mas Benedito não conseguiu ficar sem ajudar os mais necessitados e escondeu na barra de seu manto os poucos pães que restavam na cozinha. Surpreendido pelo frade, disse que levava flores nas vestes e tirou dali um ramalhete de rosas vermelhas, que se espalharam pelo chão.

O Milagre do Sangue: Quando São Benedito era cozinheiro do convento de Santa Maria, trabalhavam com ele alguns Irmãos Leigos e Clérigos, que desperdiçavam o pão. O Santo os advertia, dizendo-lhes que o pão que sobra é dos pobres ! É sangue dos pobres, ouviram ? Mas não adiantava seus pedidos, continuavam a desperdiçar o pão. Um dia, São Benedito tomou uma esponja com a qual se limpavam os pratos e que estava com migalhas de pão e, diante dos Irmãos, apertou na mão a esponja e todos viram escorrer muito sangue das migalhas de pão. Os noviços se arrependeram e pediram perdão a Deus. Depois da morte de São Benedito, o Inquisidor Apostólico mandou pintar um quadro para representar este fato. Nele está a imagem de São Benedito com a túnica feita de folhas de palmeiras que usava, espremendo a esponja da qual sai sangue. Este quadro foi para a Espanha. Uma cópia do mesmo se encontra em Portugal, na capela dos Nery. No processo sobre o culto, várias testemunhas, em 1715, atestaram ter visto várias cópias do célebre quadro em várias igrejas da Messina, na ilha da Sicília, Itália, no ano de 1526.

Benedito significa abençoado. Seus pais foram escravos vindos da Etiópia para a Sicília. Era filho de Cristóvão Manasceri  e de Diana Larcan. O casal não queria ter filhos para não gerar mais escravos. O senhor deles, sabendo disso, prometeu que, se eles tivessem um filho, daria a ele a liberdade. Assim, eles tiveram Benedito. E, como prometido, ele foi libertado pelo seu senhor ainda menino. Benedito foi educado por seus pais na fé cristã. Quando menino, cuidava das ovelhas e sempre aproveitava para rezar o Rosário, ensinado por sua mãe. Quando tinha 20 anos foi insultado por causa de sua raça. Porém, com muita calma e paciência suportou tudo. Vendo isso, o líder dos eremitas franciscanos, Frei Jerônimo Lanza, convidou-o para fazer parte da congregação.  São Benedito aceitou prontamente, vendeu tudo o que tinha e se tornou um eremita franciscano, ficando com eles por volta de 5 anos. O Papa Pio IV, desejando unificar a ordem franciscana, ordenou aos eremitas que se juntassem a qualquer ordem religiosa. Benedito foi para o mosteiro da Sicília, um convento em Santa Maria de Jesus. Era o convento dos franciscanos capuchinhos. Benedito entrou como irmão leigo, assumindo uma função tida como secundária: a de cozinheiro. Benedito, porém, fez da cozinha um santuário de oração e fervor. Vivia sempre alegre e com muita mansidão, conquistando a todos com sua comida saborosa e sua simpatia. Foi transferido depois para o convento de SantAna di Giuliana, ficando por 4 anos. Depois retornou para o convento de Santa Maria de Jesus, permanecendo ali até sua morte. Por causa de sua vida exemplar, trabalho, oração e ajuda a todos, Frei Benedito tornou-se um líder natural. Em 1578 foi convidado para ser o Guardião, (superior) do mosteiro, cargo que aceitou depois de muita relutância. Apesar de ser analfabeto, administrou o mosteiro com grande sucesso, seguindo com rigor os preceitos de São Francisco. Organizou os noviços, foi caridoso com os padres, era o primeiro a dar exemplo nas orações e no trabalho. Todos queriam ver e tocar em São Benedito, por causa de sua fama de santidade, palavras, milagres e orações. Os escravos simpatizavam muito com ele, por ser negro, pobre e com grandes virtudes. Em torno do seu nome surgiram numerosas irmandades.

São Benedito é um dos Santos mais populares do Brasil, com inúmeras paróquias por todos os lugares, inspiradas em seu modelo de humildade e caridade. Grande é o número de milagres de São Benedito, inclusive a ressurreição de dois meninos, a cura de vários cegos e surdos, a multiplicação de peixes e pães e vários outros milagres. Alguns milagres de multiplicação de alimentos aconteceram na cozinha de São Benedito. Por isso, ele é tido carinhosamente pelo povo como o Santo Protetor da cozinha, dos cozinheiros, contra a fome e a falta de alimentos.

Um dia Frei Benedito profetizou que quando morresse teria que ser enterrado às pressas para evitar problemas para seus irmãos. Depois disso, ficou gravemente doente e faleceu no dia 4 de abril de 1589, aos 65 anos de idade. E a profecia se cumpriu, quando ele faleceu, uma multidão invadiu o mosteiro para vê-lo, conseguir algum objeto seu ou um pedaço de sua roupa de monge para terem como relíquia do santo pobre e humilde, causando problemas para o convento. Na hora de sua morte, ele disse com muita alegria: Jesus ! Jesus ! Minha mãe, doce Maria ! Meu Pai São Francisco ! E morreu em paz. Seu corpo foi transladado para a igreja e exalava suave perfume. Exumado posteriormente, estava intacto, (incorrupto). Em 1611 seu corpo foi colocado em uma urna de cristal na igreja de Santa Maria em Palermo para visitação e permanece lá até os dias de hoje.” (Fonte: Dargent Leilões, Lote 58, Acervo de Dom Antonio Maria Alves de Siqueira: Bispo de São Paulo e Arcebispo de Campinas).

Um dos informes chama atenção para a tentativa de dar às esculturas a aparência de ‘figurações vivas’ que teve seu auge nas imagens processuais, destinadas às festividades, em especial as da Semana Santa, com uso de cabeleiras naturais e vestes suntuosas complementadas por ricos acessórios.

De acordo com suas tipologias específicas, essas esculturas podem ser classificadas como ‘imagens de vestir’, com seu traje apenas esboçado esculturalmente, ou ‘imagens de roca’, em que seu tronco é uma armação em ripas ou réguas de madeira revestidas algumas vezes de tela encolada e pintada, possibilitando aliviar o peso das imagens nas procissões.

“Na verdade, essas imagens teriam surgido na Espanha, após o Concílio de Trento, em que se representava o nascimento de Cristo numa caverna rochosa ou a Paixão de Cristo no alto de um monte, de uma rocha, em espanhol, ‘rocae’, daí a origem do nome. Na Espanha e em Portugal, depois no Brasil, essas representações evoluíram para procissões, em que se usavam imagens de madeira, ocas, muito leves, que poderiam ser facilmente transportáveis nos andores. Essas imagens poderiam ainda ser vestidas de maneira diferente para diferentes ocasiões, Páscoa, Natal. Alguns trajes eram confeccionados por grandes damas fidalgas, outros eram deixados em testamento às Santas. Estas imagens eram muitas vezes articuladas nos braços, nas mãos ou tronco, precisamente para permitir que se adaptassem a esta função teatral nos atos religiosos. Em Portugal, elas eram comuns nas igrejas, nos séculos XVI e XVII, como atestam inventários e as próprias Constituições Sinodais da época.

Pedro Penteado, estudioso dos arquivos da Confraria de Nossa Senhora de Nazaré, ao analisar o inventário de 1608, fez o seguinte comentário envolvendo o vestuário da Virgem de Nazaré: A crença na cura através destas relíquias, sustentada pelo princípio mágico de que o objeto que estava em estreito contacto com o ícone sacro possuía as suas virtudes, pode talvez justificar o desaparecimento de algumas vestes da Imagem da Senhora, antes de 1617. Uma boa parte do inventário feito por ordem daquele antigo administrador diz respeito aos referidos mantos, bem como a outras peças do vestuário da Senhora.

Na América, as imagens de roca chegaram via colonialismo e são encontradas em países onde o catolicismo se fez mais presente. Aqui, como na Península Ibérica, elas participavam das procissões, funcionando como estímulo didático, dentro dos moldes ideológicos da época, para o desenvolvimento espiritual da população.

No Brasil, a partir do século XVII, essas imagens começaram a ser bastante utilizadas. Na Bahia, segundo o pesquisador Valentin Calderón, o hábito de paramentar as imagens de esculturas com mantos era comum na segunda metade do século XVII, como se pode ver na obra de Frei Agostinho de Santa Maria, em que a maior parte da numerosa iconografia mariana registrada possuía mantos e coroas … Mas foi na segunda metade do século XVIII e nos primeiros anos do XIX, que esse tipo de imaginária atingiu maior popularidade.

A obra de Frei Agostinho de Santa Maria, acima citada por Valentin Calderón, é o Santuário Mariano, que publicado em 1722, faz referência a várias imagens existentes em Salvador, como: Nossa Senhora do Carmo, na Igreja do Carmo, desde 1602; Nossa Senhora da Boa Morte, na mesma igreja, desde 1685; Nossa Senhora das Angústias, na Igreja de São Bento, desde 1612.

Gilka Goulart de SantAnna e Valdete Celino Paranhos observam que outras imagens de vestir, com mantos bordados, citadas no Santuário Mariano, não foram ainda identificadas, possivelmente, se apresentam agora com vestes mais modestas ou talvez estejam fora de seus nichos nas igrejas.

Na Espanha, no século XVI, tornou-se grande moda ornar as imagens com ricos mantos bordados, desbastavam-se até esculturas de mérito para colocação de vestes suntuosas. Provavelmente, chegaram ao Brasil quando Portugal esteve sob o domínio espanhol. Certo é, que essas imagens eram comuns em nossas igrejas no século XVIII, constituindo-se numa das mais importantes expressões da imaginária barroca.

Valentin Calderón confirma que rara era a Matriz que não tinha uma imagem de roca de Nossa Senhora das Dores ou de um Senhor dos Passos, caído sob o peso da cruz, com rosto oculto pelos cachos da farta cabeleira natural, vestindo invariavelmente uma empoeirada túnica roxa. E acrescenta que era nas Ordens Terceiras que essas imagens encontravam maior popularidade, sendo até necessária a criação de espaço especial para guardá-las nas igrejas, conhecidos como casa dos santos ou sala dos santos. A popularidade das imagens de roca, além de ter ligações com a dramaticidade e o luxo, que caracterizavam os cânones estéticos barrocos, estava associada também a realização das procissões, que passaram a ser comuns na época. Essas imagens podiam ser vestidas de formas variadas, estimulando a imaginação das Irmandades que, nos grandes cortejos religiosos, competiam entre si. De fato, nas principais procissões realizadas nesse período, na Bahia, as imagens de roca tinham um papel de destaque, contribuindo com seu impacto visual, vestidas e ornadas de valiosas jóias para o grande êxito da difusão do culto público. Sendo, sem dúvida, este o período áureo de sua função religiosa. Acrescidas de cabelos naturais resplendores ou coroas de ouro, suas gigantescas figuras sobre os andores e charolas, enfeitadas de flores, impressionavam e ao mesmo tempo excitavam o povo, pelo naturalismo da representação, como se fossem figuras vivas, verdadeiros atores daquela alegoria colorida que desfilava pelas ruas da cidade. Por outro lado, as imagens de roca eram consideravelmente mais leves, pois, ao contrário das imagens tradicionais que vinham esculpidas em madeira compacta, elas tinham parte do corpo estruturada em ripas de madeira. Esse processo construtivo reduzia o peso das imagens, tornando-as mais apropriadas para as longas e solenes procissões barrocas. Na Bahia, a população sempre deu um valor especial às procissões, transformando tais cerimônias em famosas festas populares, tanto na capital como no interior. Por isso mesmo, não eram poucas as procissões baianas, o que explica também o grande número de imagens encontradas naquelas igrejas. Dentre as mais importantes procissões baianas destaque para: a de Corpus Christi, a do Fogaréu, a do Senhor Morto, além das procissões com santos padroeiros das cidades e santos venerados pelas Ordens Religiosas. Algumas procissões desapareceram com o passar do tempo, como a de Cinza ou da Penitência, que acabou em meados do século XIX e a do Triunfo da Cruz e Senhor Nosso, que existiu até 1830 e era organizada pela Ordem Terceira de São Domingos. Atualmente, muitas das imagens de roca da Bahia já não saem em procissão. Algumas, no entanto, continuam valorizadas, é o caso das imagens de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador; das imagens do Senhor dos Passos e Senhor Morto, comuns nas igrejas do interior e sempre presentes nas procissões da Semana Santa; da imagem de São Bartolomeu, em Maragogipe e das imagens de Nossa Senhora da Boa Morte e de Nossa Senhora do Carmo, em Cachoeira. As mais importantes coleções de imagens de roca existentes na capital baiana pertencem às Ordens Terceiras, do Carmo, de São Domingos e de São Francisco. Elas estão entre as que não mais participam de procissões e se encontram expostas em salas especiais, porém com vestes simples que já não revelam o brilho e o fausto de outras épocas.” (Fonte: Dargent Leilões, Lote 311, Acervo de Dom Antonio Maria Alves de Siqueira: Bispo de São Paulo e Arcebispo de Campinas).

Retornamos à Livraria das Marés, os donos já haviam aberto em Paraty a Pousada Literária, que oferece livros dentro da própria acomodação e uma biblioteca de aproximadamente 3 mil títulos. Procurávamos algum livro que tratasse do acervo do Museu de Arte Sacra de Paraty, que acabáramos de apreciar, mas não encontramos nenhum material. São donos também do Restaurante Quintal das Letras.

Segundo a UNESCO, o sobrado onde está instalada a Casa da Cultura é um dos mais representativos da arquitetura civil do século XVIII em Paraty, quando a maioria das construções serviam como armazéns. Funciona de 3ª feira a domingo, das 10 às 22 horas.

A fachada, voltada para a rua Dona Geralda, 177, em cinco portas; no piso superior, quatro janelas. Pela rua Dr. Samuel Costa, três portas e duas janelas no térreo e cinco janelas no piso superior. Sabe-se que de 1869 a 1895 foi uma residência; de 1895 a 1943 foi um estabelecimento de ensino; de 1943 a 1986 foi sede do PAC – Paratiense Atlético Clube e em 1992 tornou-se a sede definitiva da Casa da Cultura, abrigando exposições diversas, entre as quais as de Benedito Martins, comemorando 58 anos de pintura. www.casadaculturaparaty.org.br

E outros: Carlos Esteban, Cintia Celeste, Dalcir Ramiro, Patrícia Sada, Magela Borgatto, Rodrigo Saramago, Patrício Cordeiro, ceramistas.

Estivemos, na sequência, na Livraria de Paraty, do Grupo Editorial Record e também não encontramos nenhum material sobre o acervo do Museu de Arte Sacra de Paraty.

Retornamos à Igreja Matriz Nossa Senhora dos Remédios para visitá-la internamente. Como escreveu Diuner Mello: “Para se conhecer Paraty é necessário estar desprevenido de toda a majestade de igrejas suntuosas, como as da Bahia, é necessário esquecer o fausto e a riqueza de Ouro Preto. Aqui nada é suntuoso nem majestático. O importante é o conjunto: a arquitetura singela e singular de cada edificação …”

Uma vez na Praça da Matriz, na sequência dessa visita, a opção perfeita foi o Ristorante e Pizzeria Italiana Punto Di Vino ou Punto Divino, primeira enoteca de Paraty, rua Marechal Deodoro, 129, onde experimentamos um ‘carpaccio di palmito ecológico’, palmito pupunha ecológico temperado com azeite e cheiro verde.

Retornamos também a à Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito para conhece-la internamente e participar da celebração da Missa da Esperança às 19:30 horas.

Após a missa, fomos para o Teatro Espaço, rua Dona Geralda, 327, onde assistimos o show de bonecos. www.teatroespaco.com.br

> 27/04/2017 – 5ª feira – Retornamos ao Rio de Janeiro

Em Paraty, desde 2003, no mês de julho acontece a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, que projetou a cidade nacional e internacionalmente. E vice-versa: este lugar tão diverso e incrível fez brilhar a festa, como escreveu-se na Revista da Travessa Nº 4, ano 2015. Este ano, a Flip acontecerá de 26 a 30/07/2017.

Curiosidades que a História nos traz: Quando a vila de Paraty estava começando a se formar, em meados do século XVII, a elite social era formada pelos fazendeiros proprietários de engenhos de açúcar, logo, as melhores casas estavam nas fazendas e não na vila.

A partir da elaboração do Registro de Posturas da Câmara Municipal da Villa de Paraty, em 1829, as edificações passaram a ter uma padronização e maior preocupação estética.

Os beirais do tipo cachorro eram de pessoas simples, os de cimalha eram dos mais ricos, as beiras-seveiras eram mais utilizadas nas construções religiosas e militares.

Nas normas adotadas a partir de 1836 ficaram estabelecidas uma série de exigências construtivas. Passou a ser obrigatório, além de licença prévia de construção, o respeito pelo alinhamento das ruas. As dimensões, o número de vãos, a altura da edificação, o pé-direito dos pisos, bem como os materiais a utilizar; padronizados desde o século XVIII, foram renovados, passando a ser obrigatório murar os limites dos lotes e abriu uma ‘porta de frente’. A altura das casas térreas ficou estabelecida em 18 palmos e a dos sobrados em 35 palmos. As portas deveriam ter 2 palmos de altura e 5 de largura.