BARRA DE SÃO JOÃO (RJ) – BRASIL – 2022 (FEV)

– aí nasceu e morreu seu mais ilustre filho, o poeta Casimiro de Abreu.

Oh! Que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores, naquelas tardes fagueiras, à sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais!

Até a chegada dos colonizadores de origem portuguesa, no século XVII, a região era habitada pela tribo saraçu, um ramo dos índios goitacás. Aos poucos, os goitacás foram sendo exterminados pelos colonizadores.

No século XVIII, existia na região a aldeia Indaiaçu, de índios guarulhos, outro ramo dos goitacás, que havia sido fundada pelo capuchinho italiano Francisco Maria Tali.

Barra de São João é um dos distritos do município de Casimiro de Abreu, região da baixada litorânea ao norte do Estado do Rio de Janeiro. A área é limitada mais ao sul pelo Rio São João, divisa com o município de Cabo Frio e mais ao norte pelo posto de policiamento rodoviário, divisa com o município de Rio das Ostras, se estendendo por pouco mais de 4 km ao longo da RJ 106.

O distrito foi sede do atual município de Casimiro de Abreu, quando era, então, entreposto comercial. Com a mudança econômica dos portos de desembarque, causada entre outros motivos pelo fim da escravidão, para as fazendas junto as trilhas para a região serrana, a cidade perdeu importância econômica.

Reparte com o município vizinho de Silva Jardim, a Reserva Biológica Poço das Antas, que abriga vários animais ameaçados, entre eles o mico-leão-dourado.

Achei muito curioso na estrada as passarelas para animais, evitando assim que sejam atropelados. Nunca havia visto tais passarelas.

Entre os destaques, está a Praça As Primaveras, um dos poemas de Casimiro de Abreu, e também o amplo casario colonial, concentrado numa avenida junto ao Rio São João e conhecida como Avenida Beira-Mar, onde está a casa onde nasceu o poeta, transformada em Museu na década de 1970.

Na verdade, a casa, datada da primeira metade do século XIX, foi um depósito de mercadorias, um entreposto, pertencente ao pai de Casimiro de Abreu, que comerciava com as praças de Leripe (atual Rio das Ostras) e Capivary (atual Silva Jardim), entre outras localidades. A casa servia de acomodações à família, com quartos de alcova para melhor se protegerem dos fortes ventos da região, de um lado, e acomodações para os escravos, do outro.

“Foi lógico o sucesso do volume, popular como nenhum, no país inteiro … Lógico por sua essência: o Brasil nascera pouco antes; e Casimiro era um intérprete da infância e – mais que isso – da infância brasileira. Exaltava a pureza bárbara da terra e da gente, em toda a sua virgindade fragrante, em sua graça bravia, em seu esplendor primitivo, com a luz do céu americano.

E foi justo o sucesso. A criação revelava um grande Poeta. O humilde moço do comércio era um espírito visitado pela Graça. Sem conceitos e imagens, gastos hoje pelo uso  imoderado dos plagiários e discípulos, eram então novos e ricos. E sua técnica – das mais fortes entre os nossos românticos. Uma rolada pura de flauta. Um tom próprio, humilde e manso, úmido de emoção e de ternura …” (Murillo Araújo sobre o livro As Primaveras)

 

 

O distrito é banhado pelo mar, conhecido por Praião por um lado e pelo rio São João pelo outro, abrigando uma pequena faixa de areia ao centro, a Prainha; a 4 metros do nível do mar, num pequeno morro rochoso, a secular Capela de São João Batista.

A primeira capela, dedicada à Sacra Família, foi erguida em 1748, passando a freguesia criada em 1761 a chamar-se Sacra Família de Ipuca. Constantes surtos de epidemias na localidade ocasionaram a sua transferência para junto do rio São João, onde foi edificada a igreja consagrada ao Santo. Em 1800 foi criada a freguesia de Barra de São João, subordinada ao município de Macaé. Em 19 de maio de 1846, a freguesia foi elevada à categoria de Vila, separando-se de Macaé, com a denominação de Barra de São João. Em 1890, foi elevada à categoria de cidade.

Do lado esquerdo, o pequeno cemitério da extinta irmandade de São João Batista e ao fundo o cemitério da também extinta irmandade do Sumo Sacramento, onde se encontram os túmulos do poeta Casimiro de Abreu ao lado do do seu pai. Nessa Capela o poeta foi batizado.

A Capela está passando por reformas, depois de ficar fechada por cerca de 12 anos, devido a problemas na sua estrutura. De acordo com o projeto, a obra prevê a recuperação na estrutura, pintura, iluminação externa e interna, novo assoalho, forro e telhado, sob a supervisão do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, já que tombada como patrimônio cultural.

É possível fazer um passeio de barco pelo rio, por mais de 30 km, até a represa de Juturnaíba.

 

Outro destaque são as ruínas da antiga ponte sobre o rio, no passado usada como passagem para trens, depois como rodovia e, sem manutenção, acabou tombando.

 

O Rio São João nasce na Serra do Mar, próximo à área de proteção ambiental de Macaé de Cima, nos limites entre os municípios de Silva Jardim com Nova Friburgo e Cachoeiras de Macacu, importante fonte de abastecimento de água das cidades da Região dos Lagos. Sua foz é a localidade de Barra de São João.

Casimiro José Marques de Abreu foi um poeta da segunda geração do romantismo. Nasceu em 04/01/1839, na Fazenda da Prata, na Serra do Macaé, anteriormente território de Nova Friburgo, hoje, Casimiro de Abreu e faleceu em 18/10/1860, em Nova Friburgo, aos 21 anos, filho de José Joaquim Marques de Abreu, fazendeiro português, e Luísa Joaquina das Neves, fazendeira, viúva do primeiro casamento, cuja fazenda recebeu por herança.

Em 1853, aos treze anos de idade, embarcou com o pai para Portugal, onde entrou em contato com o meio intelectual e escreveu a maior parte de sua obra. Em 1857 retornou ao Brasil, escreveu para alguns jornais e fez amizade com Machado de Assis. Em 1859 editou as suas poesias reunidas sob o título de As Primaveras, um dos principais símbolos poéticos da saudade.

Viveu, cantou, morreu.

A Casimiro de Abreu

(Clímaco Ananias Barbosa de Oliveira)

 

 

 

 

 

Viveu como uma flor tão curta vida,

Ou foi uma esperança falecia,

Ou sonho que acabou;

Sem gozar dos festins que o mundo afaga, 

Como um batel que a tempestade traga, 

Os dias seus passou.

Cantou suas passadas primavers

Tendo saudades dessas lindas eras

Em que tudo é sonhar;

Seus pesares gemeu e suas dores,

Esperanças cantou o seu penar.

Morreu inda na flor da mocidade

Entoando uma nênia de saudade

Por sobre os sonhos seus!

Foi saudar nova vida, novo sol;

Subiu ainda da vida no arrebol,

Alegre aso pés de Deus.

Viu ser encenada sua peça Camões e o Jau no Teatro Dom Fernando, ainda em Lisboa em 1856, e aos 17 anos já colaborava na imprensa portuguesa.

É patrono da cadeira número seis da Academia Brasileira de Letras fundada por Machado de Assis.

Era a hora da merenda em nossa casa e pareceu-me ouvir o eco das risadas infantis da minha mana pequena! As lágrimas correram e fiz os primeiros versos da minha vida que intitulei “As Ave-Maria”: a saudade havia sido minha primeira musa. (Casimiro de Abreu)

 

Estivemos em Barra de São João, em 20/02/2022, para visitar a família Grumbach Taranto e, após uma visita à cidade, uma moqueca de lagosta no Restaurante Pôr do Sol foi um momento de êxtase. Conhecer os donos, Walter & Anna Marina, avós de Gustavo, marido de Mariana, resultou em muita alegria transmitida por esse casal, apesar do trabalho duro que encaram no restaurante, que fica na Rua Bernardo Gomes, 384, à beira-mar. (22) 2774-5495 Após o almoço, sentados diante de um bar-barco ou barco-bar fomos brindados por um violinista, Celsinho, professor de flauta de nossa neta Marina. Foi um momento de encantamento, coroado com o por do sol no rio. No início da noite, seguimos para Cabo Frio. Foi um dia muitíssimo agradável!

 

Ao longo da rua povoada de mesas,

violões, crianças e casais,

risos frondosos de algaravia,

a escuna aos apitos escoando no rio,

ao som de Pixinguinha

e Paulinho da Viola

a impressionista sarabanda semovente

de Pancetti,

Di Cavalcanti,

na Festa Anual do Peixe na Barra de São João.

 

De Guignard as casinhas coloniais

fagueiras na Beira-Rio

tão oníricas

parecem até assobiar valsinhas

como nos versos de Mario Quintana.

 

E no Restaurante Pôr do Sol

(“lugar de pescadores, caçadores,

advogados, políticos e outros mentirosos”)

entre o fervor das tórridas terrinas

de lagostins, paellas, camarões, moquecas,

panquecas, risotos e bistecas

e o festim de odores e sabores

singra no ar o arcanjo Casemiro.

 

Então com Guilherme com Juliano

tudo olhamos meninamente

quando pôr-do-sol Casemiro viu

nos avalares do sempre:

as fogueiras cadentes no queimar das águas

flamas do rio borboleteantes

no faiscar do mar

quando a tarde cai na Barra do São João.

 

E a soto-voz-Casemiro

olhando os netos mareja

por ser a vida delícia

na brevidade dos dias

paraíso dos mortais.

 

Beijo Guilherme Juliano

na casa de Casemiro

e sorrio na certeza

que a saudade da infância

ninguém esquece jamais.

 

“Com os Netos e Casemiro de Abreu, por Wilmar Taborda, 2005/2006”

 

 

Fontes: IBGE, INEPAC – Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, Wikipedia