NOSSO ROTEIRO NA PATAGÔNIA CHILENA – PUERTO BORIES 2015
> 03/11/2015 – 3ª feira
Às 12 horas, a van do hotel The Singular Patagônia veio nos buscar para levar-nos a Puerto Bories, ao lado de Puerto Natales, 249 km pela Ruta 9.
Durante todo o trajeto, o vento fazia o carro balançar, deslocando-se no ar lateralmente.
Longe de tudo, na pontinha final do continente americano, Punta Arenas é a principal porta de entrada para a Patagônia Chilena.
Chamada de ‘Sandy Point’, Punta Arenosa, pelo inglês John Byron durante sua passagem pela região no século XVII, Punta Arenas é a capital da Região de Magalhães e da Antártica Chilena, a cidade, uma das mais importantes do sul do país, tem posição estratégica, às margens do Estreito de Magalhães, famoso canal de 600 km de extensão, descoberto pelo navegador Fernão de Magalhães nas primeiras décadas do século XVI (1520), que liga o Oceano Atlântico e o Pacífico.
Fundada em 1848, é uma cidade em estilo europeu, com ativa comunidade chilote e vestígios de antigas influências inglesas e croatas e onde abunda a boa gastronomia e uma hotelaria de excelente nível.
Desejemos que Antoine de Saint-Exupery, el autor de ‘El Principito’, describa a Punta Arenas: “… hice un bello viaje a la Tierra del Fuego. Punta Arenas me gustó por mil razones que nada tienen que ver con la ciudad misma. Me encantaría tener el tiempo para entenderlo y explicármelo, para formarme una opinión sobre este lugar, pero apenas alcanzo a saborearlo como lo haría un animal. En este país siento que llego a alguna parte. Amo a un país cuando experimento esa sensación, aunque con esto no digo nada. Su luz ,e gusta infinitamente. Hay en el cielo grandes bancos de nubes que tambíén dan la impresión de haber llegado. Pareciera tratarse de ‘objetos’ totalmente reales, como los árboles. Es la luz más hermosa que jamás he visto.” (tomado de na carta a un amigo em 1930)
Nossa hospedagem foi no The Singular Patagônia Puerto Bories Hotel*****, Puerto Bories s/nº. www.thesingular.com
“El hotel ha sido recientemente nombrado como el mejor Hotel en Chile y uno de los mejores de América del Sur en los premios Traveller’s Choice de Trip Advisor’s.”
Construído a princípios de 1900 pela Sociedad Explotadora de Tierra del Fuego, o edifício do hotel, antigo ‘Frigorífico Bories’, é um testemunho da indústria desenvolvida pelos colonos europeus que chegaram a Patagônia em busca de uma nova vida em uma terra selvagem.
O Frigorífico Bories começou a ser construído em 1905, as operações tiveram início em 1910 e a construção se concluiu em 1915, funcionando intensamente por quase sete décadas, gerando trabalho e contribuindo para o povoamento e progresso da Patagônia. Deste modo, o Frigorífico e a Sociedade Exploradora da Terra do Fogo tiveram papel importante na fundação da cidade de Pueto Natales no ano de 1911, às margens do Canal Señoret. Quando em plena atividade, o frigorífico processava entre 150.000 e 250.000 ovelhas anualmente, trabalhavam 100 pessoas fixas e entre janeiro e abril, chegavam a mais de 400 pessoas.
Em 1996, após anos de abandono, o prédio foi declarado Monumento Histórico Nacional.
Seus proprietários, quarta geração de descendentes daqueles pioneiros, famílias Mac Lean Gómez (escocês) e Pavovic Morrison (asturiano), como forma de devolver ao lugar sua época de glória, o transformaram no mais exclusivo e único hotel de luxo da Patagônia, obra do arquiteto Pedro Kovacic.
Foram necessários 10 anos para transformar o sonho em realidade, com o especial cuidado de usar os mesmos materiais das estruturas originais.
> 04/11/2015 – 4ª feira
Fiordes são o resultado de vales formados pela atividade glacial e é sobre o Fiorde ‘Última Esperanza’ que está o hotel.
Juan Ladrilleros, navegante espanhol, intencionando buscar a entrada do Estreito de Magalhães a partir do Oceano Pacífico para o Atlântico, ingressou nas águas deste Fiorde à frente do hotel e o denominou ‘Última Esperanza’, por ser a última esperança de encontrar o Estreito de Magalhães, navegando de oeste a este.
Navegamos pelo fiorde e como ventava muito, a alternativa foi parar na Estancia La Península, de propriedade do próprio hotel.
Vimos tosquiar uma ovelha. A esquila é feita uma vez por ano, aproximadamente, 3 kgs de lã, que será, então, classificada e prensada.
A lã de melhor qualidade é vendida para a empresária Paulina Escobar, natural de Puerto Natales e dona da Le Mouton Vert que cria peças lindíssimas. É só conferir no site www.lemoutonvert.org Tivemos a oportunidade de conhecer a Paulina e o trabalho dela.
“De la lejana y pura Patagonia chilena … al abrigo natural y consciente en tu cuerpo.”
De volta, à medida que caminhávamos pelo prédio do hotel, observávamos constantes lembranças de seu passado industrial; a maquinaria importada da Inglaterra no início do século XX; a garagem de locomotivas; as caldeiras a lenha e a carvão, que produziam o vapor conduzido à sala de máquinas para fazer funcionar os compressores e geradores a vapor; as bombas de água; o grande edifício de curtume e grasería, entre outros, com um passado vivo, testemunha do enorme esforço de homens que, a despeito do desfavorecimento do clima e da geografia, venceram a natureza e foram capazes de gerar a eletricidade e sistemas de refrigeração à vapor.
Numa visita guiada, obtivemos informações adicionais. Em 1945, foi incorporado um motor que funcionava à base de petróleo, complementando os geradores elétricos a vapor.
Em 1953, foi integrado ao sistema de refrigeração existente, à base de amoníaco, outros dois compressores.
Em 1971, se instalou um gerador de emergência, uma vez que o frigorífico se conectou à eletricidade da cidade de Puerto Natales.
Em 1974, ambas as caldeiras foram adaptadas a gás natural, por ser um combustível mais barato e comodo.
A sala de máquinas vitorianas correspondia ao coração energético do complexo industrial. Nela se gerava a energia elétrica que iluminava a indústria e a vila, fazendo funcionar a maquinaria de cada uma das dependências e gerava frio para refrigeração das 12 câmaras frigoríficas, onde se podiam armazenar até 180 mil ovelhas e 850 mil toneladas de produto final (carne congelada).
Essa sala de máquinas é o fiel reflexo da revolução industrial britânica em solo patagônico.
As acomodações do hotel correspondem às 12 câmaras frigoríficas. Em 7 décadas o frigorífico foi erguido, atingiu seu ápice e declínio.
Depois desse passeio guiado por todo o hotel, uma ida ao Spa para relaxar na piscina.
> 05/11/2015 – 5ª feira
Tour Puerto Natales, Tierra de Pioneros.
Foram os ingleses que introduziram as ovelhas na Tierra del Fuego, que aí muito bem se adaptaram e reproduziram.
O governo do Chile, então, por contrato trouxe para essas terras produtores pioneiros, migrantes chilenos vindos da Isal de Chiloé.
Margeada pelo Canal Señoret, a cidade tem por símbolo o Milodón e por atividades o turismo e a pesca artesanal, o que nos levou a começar nossa visita pelo Bairro dos Pescadores, com suas casas construídas com simplicidade, a partir do aproveitamento de recortes de metal.
Há na cidade um pequeno frigorífico processador de carnes exóticas como cordeiro, guanaco, lebre e vacuna.
Na Avenida Manuel Bulnes está concentrado o comércio e aí está o Museu Histórico Municipal, no nº 285, museu organizado pela população e pela polícia e posteriormente assumido pelo governo. de 2ª a 6ª feira, das 8 às 19 horas e sábado, das 10 às 13 horas e das 15 às 19 horas.
Após a visita ao museu, uma parada na Pueblo Artesanal Etherh Aike, que oferece produtos exclusivamente de artesãos locais. Avenida Phillipi, 600 – www.etherhaike.cl
A parada seguinte foi no The Coffee Maker na Avenida Pedro Montt, 161.
Almoçamos no hotel e experimentei um ‘chupe de centolla’ delicioso (sopa de caranguejo).
À tarde fomos conhecer a Cueva del Milodón onde foram encontrados restos paleontológicos desse animal, o Milodón, extinto há milênios.
Também se descobriram evidências do homem primitivo patagônico, que datam de aproximadamente 12 mil anos atrás.
Há uma réplica de um Milodón em fibra de vidro na entrada da cueva. Esta caverna tem 200 m de profundidade e 35 m de largura e está rodeada pro bosques nativos e fauna regional.
Há outras cavernas menores e em quase todas foram encontrados restos humanos de 12.390 anos de antiguidade.
Em 1968, a área foi declarada Monumento Histórico e em 1993 se incorporou ao Sistema de Áreas Protegidas do Estado como Monumento Natural. www.cuevadelmilodon.cl
Segundo os geólogos, enormes avalanches submarinas deram origem às rochas do Cerro Benítez e, posteriormente, um lago glacial formou as covas e saliências.
A paleontologia identificou a megafauna extinta e que habitou esta área há 14.500 anos, entre eles o milodón; a macrauchenia, similar a um enorme guanaco e o cavalo anão, que eram depredados pelo tigre dente de sabre (smilodon) e pela pantera patagônica. Estes grandes animais desapareceram ao redor de 10.000 anos atrás, sendo a explicação mais aceita a de que uma mudança climática, em conjunto com fenômenos como erupções vulcânicas e a chegada dos primeiros caçadores provocara sua extinção.
De acordo com os arqueólogos, os primeiros habitantes chegaram a essa área há aproximadamente 11.000 anos e, desde então, diferentes grupos foram se alternando na sua ocupação. Quando da chegada dos primeiros colonos europeus, este era um território Aónikenk.
Retornamos ao The Singular Hotel, à 25 km da Cueva del Milodón.
No caminho, o aeroporto de Puerto Natales, que neste momento está sendo preparado para voltar a operar linhas comerciais.
No jantar, destaque para o ‘crème brûlêe de naranja’. Delícia !!!
> 06/11/2015 – 6ª feira
O programa do dia foi descobrir o Parque Nacional Torres del Paine. Este parque é parte do Sistema Nacional de Áreas Protegidas do Chile, declarado Reserva da Biosfera em 1978, pela UNESCO.
Com cerca de 450 mil hectares de florestas nativas, lagos, rios, geleiras e montanhas, incluídas as torres que lhe dão nome, o parque está localizado na Província de Última Esperanza, na Comuna de Torres del Paine, à 154 km de Puerto Natales.
Torres del Paine é um dos parques nacionais mais espetaculares do mundo. O cenário que se originou milhões de anos atrás com uma grande erupção vulcânica e que foi moldado pelo resfriamento e pela ação da natureza ao longo de séculos e séculos era ocupado por fazendas e campos de criação de ovelhas até ser oficializado como área de preservação ambiental, em 1959.
No caminho, a Villa Cerro Castillo, capital da Comuna Torres del Paine, acerca de 1 hora do hotel, aldeia situada em torno de uma antiga fazenda dedicada a criação de ovinos. À 2 km da fronteira argentina.
Continuando em direção ao Lago Sarmiento para, então, ingressar no parque pela Portería Laguna Amarga. Antes, contudo, uma parada no Mirador Cascada Paine.
“Sierra Baguales, fronteira natural com a Argentina.”
Na sequência o Lago Peohe, passando sobre a Puente Weber para uma nova parada, desta vez no Centro de VIisitantes.
Saímos pela Portaria Rio Serrano, margeando o Lago del Toro avistando ainda a Laguna Sofia e a entrada para a Cueva del Milodón, que visitamos no dia anterior.
Foi um belíssimo dia de sol, sem vento, o que nos permitiu ir a Torres del Paine e ver as três torres.
Uma dica é a sobreposição de roupas, porque o tempo muda ao longo do dia, assim se poderá tirá-las à medida que o dia esquenta e recolocá-las à medida que o dia esfrie, escapando de sentir calor ou frio.
No retorno, ficamos em Puerto Natales, na Praça Principal e visitamos a Igreja Maria Auxiliadora.
Depois andamos um pouco pela Rua Manuel Bulnes, a rua de comércio.
Patagônia, Gabriela Mistral – Prêmio Nobel de Literatura 1945 A la Patagonia llaman sus hijos la Madre Blanca. Dicen que Dios no la quiso por lo yerta y lo lejana, y la noche que es su aurora y su grito en la venteada por el grito de su viento, por su hierba arrodillada y porque la puebla un río de gentes aforesteradas. Hablan demás los que nunca tuvieron Madre tan blanca, y nunca la verde Gea fue así de angélica y blanca ni así de sustentadora y misteriosa y callada. ! Qué Madre dulce te dieron, Patagonia, la lejana ! Sólo sabida del Padre Polo Sur, que te declara, que te hizo, y que te mira de eterna y mansa mirada. Oye mentir a los tontos y suelta tu carcajada. Yo me la viví y la llevo en potencias y en mirada. – Cuenta, cuenta, mama mia ? es que era cosa tan rara ? Cuéntala aunque sea yerta y del viento castigada. Te voy a contar su hierba que no se cansa ni acaba, tendida como una madre de cabellera soltada y ondulando silenciosa, aunque llena de palabras. La brisa la regodea y el loco viento la alza. No hay niña como la hierba en abajar bulto y hablas cuando va llegando el puelche como gente amotinada, y silba y arila y aúlia, vuelto solamente su alma.
> 07/11/2015 – sábado
Partida de Puerto Natales (Chile) para El Calafate (Argentina), saindo do hotel The Singular Patagônia.
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