SOBRADO DA CIDADE – CAFÉ HISTÓRICO

SABOR, CONHECIMENTO E ENCANTAMENTO

07/09/2024, às 9:30 horas

O Sobrado da Cidade fica no Corredor Cultural, Rua do Rosário, 34, próximo a esquina da Rua Primeiro de Março, fomos de Uber e voltamos de Metrô para atender um desejo de Antônia, que nos acompanhou para uma experiência diferenciada. A Prefeitura disponibiliza estacionamento rotativo na Rua Primeiro de Março e há os estacionamentos da Bolsa de Valores e um pequeno na esquina da Rua do Rosário com a Primeiro de Março.

“A história desse sobrado está relacionada diretamente com a história do comércio do Rio de Janeiro. Imóvel com estilo de construção português, com azulejos holandeses, teve sua construção finalizada em 1865, com a numeração 12, sendo que até 1877, compreendia também o número 14. Em 1910 já apresentava a numeração atual – nº 34.

O imóvel sediou diversos estabelecimentos comerciais e também uma Companhia Marítima no final do século XIX (Companhia Nacional de Salinas Mossoró-Assú, liquidada em 1901). Negócios desse tipo eram comuns na região, dada a proximidade com o porto.

Por ser um amplo sobrado, o imóvel servia também de residência nos pavimentos superiores, como era comum em casarios portugueses, tendo funcionado como pensão e aluguel de cômodos, lojas e salas para escritório, enquanto no térreo localizavam-se armazéns e depósitos.

A Rua do Rosário é “uma das mais antigas ruas abertas em direção ao Campo da cidade” – região compreendida entre a Rua da Vala (antigo fosso) e os mangues de São Diogo (atual Cidade Nova). Alguns trechos chamaram-se “André Dias”, ‘Domingos Manuel” e “Duarte Vaz Pinto”, em função desses ilustres moradores. A rua existe desde o início do século XVII pelo menos, quando a modesta Alfândega foi transferida do bairro da Misericórdia para suas imediações, atendendo aos interesses dos negociantes. Apresenta-se desde cedo, portanto, como importante centro comercial. O nome deve-se à edificação, no final do logradouro (altura da rua Uruguaiana), da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos.

A Alfândega e região portuária, que delimitam o início da rua do Rosário, eram servidas também, em meados do século XIX, pelo Trapiche da Cidade ou Trapiche Maxwel, pela Praça do Comércio e pela Praça do Mercado – o Mercado Municipal.

O aumento do comércio também impôs a necessidade de modernização do maquinário do cais bem como dos armazéns. As obras hidráulicas principiaram em 1853, as dos armazéns em 1855 e as dos guindastes hidráulicos em 1874. O quarteirão onde se encontra o sobrado da atual rua do Rosário nº 34, chegou a ser projetado como Armazém 1877.

A praia que banha a região da Alfândega, Trapiche e Mercado era chamada na época de Praia do Peixe. Em sua orla localizava-se também o Largo do Paço, na Praça XV (Praça Pedro II em 1870), com o Paço Imperial e o Cais do Largo do Paço / Cais Pharoux. Ao final da Alfândega, ao norte, se situava o Cais dos Mineiros – na chamada Praia dos Mineiros ou Braz de Pina.

Essa é apenas parte da história tão rica que envolve esse imóvel e a região onde está situado. … este “grande e sólido prédio” como já era chamado em 1934 nos anúncios da época, continua a cumprir sua função social e econômica de comércio, abrigando hoje o Sobrado da Cidade Restaurante & Bar que com muito orgulho buscou resgatar um pouco dessa história por meio da pesquisa das historiadoras Lia Souza e Daiana Crús com patrocínio e incentivo da 3 Corações.” (texto do próprio Sobrado da Cidade)

O programa começa às 9;30 horas, com um farto café da manhã com duração de 1 hora e 30 minutos, em que degustamos alimentos que trazem os sabores dos últimos 10 anos do século XIX. Esta etapa é apresentada por uma pesquisadora de gastronomia colonial, a historiadora Nathalia Vivaqua, que interage comentando hábitos daquela época, além de curiosidades e fatos históricos. O café colonial é servido em bela louça por uma equipe de salão que se esmera em bem servir, formada pela Chefe Alice Isha, Claudiane, Johnatan, Luan e Maria, a quem agradecemos muito por nos fazer sentir tão nobres, merecedores de tantas gentilezas. Nossa netinha foi tratada como uma Viscondessinha, que de fato é.

“Buscamos reproduzir um café da época da segunda metade do século XIX como era servido para a alta sociedade: em estilo banquete. Pensamos em muitos detalhes, desde a porcelana e talheres, pratarias, o ambiente com a música, mas principalmente no cardápio, onde buscamos a sugestão de uma especialista da UFRJ que consultou diversos autores … e também outras fontes como cardápios, livros de receitas e jornais da época.”

“Esse cardápio é uma reprodução do modelo utilizado no último baile da Monarquia brasileira que aconteceu na Ilha Fiscal em 09 de novembro de 1889. E como era de praxe na época, o cardápio está em francês.”

Na segunda parte do programa, um pequeno tour guiado no entorno, abordando a arquitetura e fatos da nossa história, com duração de 1 hora. Caminhamos até o Paço Imperial (Palácio Imperial), antiga residência do governador e do Vice-Rei no século XVIII, o Paço Imperial no Rio de Janeiro foi o centro das movimentações políticas e sociais da época, registrando importantes fatos históricos do Brasil Colônia, Real e Imperial. Entre eles, o Dia do Fico, a Abolição da Escravidão e a Proclamação da Independência do Brasil, data, inclusive, que comemoramos. Em 1808, com a vinda de Dom João VI, o local passou a se chamar Paço Real e recebeu o atual nome em 1822, com Pedro I e Pedro II, até a Proclamação da República, em 1889.

Tivemos oportunidade de observar o Chafariz que, em tempos passados, era fonte para suprimento de água para a população. Neste caso, a função do Chafariz da Pirâmide era abastecer com água as embarcações que ancoravam próximas ao cais do Largo do Paço. Uau … saber que quando o Chafariz foi construído o mar chegava até ele e que com o decorrer dos anos aterros sucessivos foram feitos, distanciando o mar cada vez mais do chafariz.

 

Passamos pelo Arco do Teles, cuja origem decorre da construção de um conjunto de casas pelo juiz português Antônio Telles Barreto de Menezes, o que deu origem ao nome. No meio da construção, surgiu um problema, a construção impedia a passagem para a Travessa do Mercado do Peixe, atual Travessa do Comércio e a solução encontrada foi criar um arco no meio de um dos prédios.

Caminhamos pela Travessa do Comércio até a Rua do Ouvidor, mais precisamente até a Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, uma das mais antigas igrejas do Rio, que remonta a dois pequenos oratórios erguidos por volta de 1743 por comerciantes e moradores da área, sob a invocação de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, devoção trazida de Portugal e comum entre os comerciantes. Poucos anos mais tarde, a 20 de junho de 1747, esses comerciantes reuniram-se e constituíram uma irmandade para a edificação de um templo sob a invocação de Nossa Senhora da Lapa, também conhecida por “Igreja dos Mascates”. Com o tempo, prosperaram e mudaram a terminologia para “Mercadores”. As obras progrediram rapidamente, de modo que, a 6 de agosto de 1750, a parte do templo pronta para o culto foi consagrada. De 1753 a 1755, os trabalhos prosseguiram até à sua conclusão. A decoração interna ficou pronta em 1766. Na segunda metade do século XIX, entre 1869 e 1879, o templo sofreu extensas obras de remodelação e ampliação, com o patrocínio do Barão da Lagoa. A irmandade adquiriu o imóvel número 23 da Travessa do Comércio e expandiu a igrejinha. Durante a demolição do imóvel comprado à Ordem de São Francisco da Penitência, debaixo do assoalho, encontrou-se um medalhão redondo, em pedra lioz portuguesa, com a imagem de Maria sendo coroada pela Santíssima Trindade. Acredita-se que o medalhão tenha sido escondido dos franceses durante a invasão da cidade do Rio de Janeiro pelas tropas de Vlillegagnon. Após uma polêmica sobre quem seria o dono da peça artística, o medalhão foi colocado na fachada da igreja, onde se encontra em destaque. Quando da eclosão da II Revolta da Armada brasileira, em 1893, já depois do golpe de estado que derrubou a Monarquia Brasileira, um tiro disparado pelo Encouraçado Aquidabã ao tentar atingir o Palácio do Itamaraty – então sede da Nova República – atingiu a torre sineira desta igreja, derrubando a estátua em tamanho real de Nossa Senhora da Fé – uma devoção medieval, que convocava, com um gesto dos dedos, as pessoas a entrar no templo – , e que, apesar da queda de mais de 25 metros de altura, sofreu poucos danos – quebrou apenas dois dedinhos, sendo o fato considerado milagroso à época. Tanto a estátua quanto o projétil que a atingiu encontram-se, expostas na Sacristia.

Nossa Senhora da Fé tem em sua mão direita o Evangelho e a Cruz e na sua mão esquerda uma Rosa, em contínuo ofertório, desejando a todos alcançar uma graça.

A igreja pertence à Irmandade dos Mercadores, criada por mascates e comerciantes do Centro da Cidade que tinham sua devoção à Senhora da Lapa, um ícone do Centro Histórico do Rio. https://lapadosmercadores.org/

A terceira etapa de nossa programação foi participar de uma missa solene, cantada em latim, no rito do Papa Paulo VI, com ervas, incensos e tudo mais da época, em comemoração ao 7 de Setembro. Cantamos o Hino da Independência, letra de Evaristo da Veiga e música de Dom Pedro I e oramos ao Santo Anjo da Guarda do Brasil.

Brava Gente Brasileira 

Longe vá, temor servil;

Ou ficar a Pátria livre, 

Ou morrer pelo Brasil,

Ou ficar a Pátria Livre,

Ou morrer pelo Brasil. (refrão do Hino)

A missa solene é realizada todos os sábados e domingos às 12 horas, abertas ao grande público e sempre acompanhadas de coral e orquestra, tem duração, em média, de 1 hora e 30 minutos.

 

ORAÇÃO AO SANTO ANJO DA GUARDA DO BRASIL

Santo Anjo do Brasil, vós fostes encarregado pelo Pai Eterno de guardar esta Terra de Santa Cruz e ajudá-la a crescer e desenvolver-se conforme Seus desígnios benevolentes.

Nós cremos no vosso poder junto de Deus e confiamos na vossa prontidão em socorrer-nos. Sede, pois, nosso guia para que cumpramos convosco a nossa missão no mundo.l

Ajudai a Igreja no Brasil a anunciar Cristo com franqueza e alegria e penetrar toda a sociedade com o fermento do Evangelho.

Afastai, com a força da Santa Cruz, todos os poderes inimigos que ameaçam o povo brasileiro.

Unimos as nossas preces às vossas. Apresentai-as diante do Trono de Deus, para que, unidas ao sacrifício de Jesus, oferecido diariamente em nossos altares, alcancem aquelas graças que mais precisamos nesta hora de combate espiritual.

E guardai-nos, sempre debaixo do manto protetor de Nossa Senhora Aparecida, nossa Mãe e Rainha, para que permaneçamos fiéis no caminho de Jesus, o único que nos conduz da Terra ao Céu.

Lá na assembleia de todos os povos, unidos como uma só família de Deus, louvaremos e agradeceremos convosco ao Pai Eterno, com Seu Filho e Espírito de Amor, por toda a eternidade. Amém.

A Câmara do Rio de Janeiro reconhece Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores no calendário oficial da cidade.
A nova legislação estabelece o 8 de setembro como data comemorativa dedicada à padroeira dos comerciantes do Rio de Janeiro.
https://diariodorio.com/camara-do-rio-reconhece-nossa-senhora-da-lapa-dos-mercadores-no-calendario-oficial-da-cidade/